agosto. ontem. agosto. igreja de são judas tadeu no cosme velho. na minha lembrança a última vez que estive lá, ainda era menina e usava saia plissada azul do sion. vazia. a igreja estava vazia. como deve ser. para mim. uma coisa meio medieval sei lá, me pertuba. não sei. mas minha alma está tão inquieta e dolorida. que não sei bem o que fazer. acendo vela. haviam várias acesas. tanta gente assim como eu. pedindo uma luz. luz. já que o blackout é total. ainda havia água benta naquelas pias. me benzi. por um minuto pensei que iria queimar. tantos são os pecados que carrego. me benzi. uma duas três vezes. sério. se pudesse teria tomado banho com água benta. porque será que a gente acredita nisso? mesmo assim estava eu lá. sentada sozinha naquela igreja enorme. no banco enorme e vazio sentei na ponta. bem na ponta. chorei. chorei muito mesmo. sei não. mas chorei por um bom tempo escondida atrás dos óculos escuros dentro da igreja vazia. levantei. na saída uma lojinha. para vender aquelas imagens que brilham no escuro. nove anos novamente. me agarrei em uma delas. a antiguinha que minha avó me deu está aqui. ela já nem brilha mais como antes. mas está aqui. não dá. para jogar uma fora e colocar outra no lugar. são judas tadeu brilha. são judas tadeu brilha dobrado.