acordei às seis e poucos minutos. acordada por um pesadelo que me fez chorar. acordei chorando. um pesadelo repetito. levantei da cama às seis. sentei no sofa da sala e acendi a luz do abajour. gosto de acender a luz quando ela ainda não toma conta da minha sala. gosto destas horas. seis da manhã seis da tarde. um pé aqui e outro lá. esta estranha impressão de que tudo pode acontecer. o aqui e o lá. levantei para esquentar o leite. passei pela estante e vi o livro verde esmeralda. havia me esquecido dele. livro de contos de katherine mansfield. eu havia me esquecido dele. como pode ser logo agora que ela tem estado tão presente na minha vida. tirei do castigo da prateleira. esquentei o leite. coloquei o café. pão dormido quentinho saído do forno. manteiga. silêncio. gaivotas. gaivotas voam perto daqui. escuto elas conversando umas com as outras. sim, o livro verde esmeralda de k.m. . costume ruim esse meu de nunca ler um livro de contos pela ordem. vou escolhendo pelo título e pronto. traço a minha jornada. comecei pela página 189. a casa de bonecas. terminei meu café antes de acabar o conto. é um conto para ser deliciado. lentamente. por causa de tudo o que há nele. voltei para o meu sofá. terminei a leitura lentamente praticamente pedindo para que a história não terminasse. e, quando ela chegou ao fim eu estava chorando. não sei descrever meu sentimento durante e depois desta leitura. não sei. não existem palavras para descrever meu sentimento, minhas sensações. sei que não existe ninguém que escreva contos como katherine. não existe. seus contos são viagens. é necessário preciso ler a casa de bonecas. vou ler esta noite para meus filhos. das coisas que são necessárias durante a vida: ler a casa de bonecas de katherine mansfield. linda. linda. linda.