nunca matei nada na minha vida. mentira. já matei barata. mas só as pequenininhas. de resto nunca matei nada mesmo. mentira. matei aula. mas aula não vale. vale? outro dia estava pensando no que é preciso para se matar alguma coisa que te atrapalha muito. bastante. é preciso coragem. ou susto. não consigo parar de pensar no medo que me dá quando penso em sair daqui pra ir ali mas o ali é longe o suficiente para não poder ir de carro ou trem ou ônibus. restando o avião. eu quero ir a são paulo. não vou por causa do meu medo de avião. porque avião não voa se desloca. se voasse nada o faria cair ou bater ou qualquer outra coisa. eu não sei. não sei. foi assim que eu pensei em matar meu medo num misto de susto e coragem. chegar no santos dummont comprar uma passagem bate -volta. ir cantarolando na janelinha. pensando nas centenas de vezes que meu avô subiu e desceu ali no teco-teco dele encantado. sei lá. no dia em que eu matar meu medo. compro espaço no jornal. vai estar lá escrito: "mulher assassina o medo no santos dummont." e todo mundo se perguntará? o medo? quem será que era esse medo coitado, assassinado. blá.