a primeira vez que fiz terapia tinha uns vinte sete. era uma terapeuta. o consultório ficava numa ruazinha sem saída lá em botafogo. engraçado que eu lembro da rua mas não lembro o nome dela. enfim era bio-energética. até que houve aquele dia em que eu estava daquele jeito. coração na boca não havia nada que me fizesse ficar quieta. coisa simples até. ficar sentada. falei isso para ela. ela me pegou pela mão e me levou até um quarto no final do corredor. abriu a porta e no quarto haviam muitos almofadões. pensei que se ela me mandasse deitar e relaxar iria sair correndo dali para nunca mais voltar. tá. ela mandou eu entrar e esperar um pouco. quando voltou, voltou com bastão na~s mãos. é. um bastão. um taco. de madeira. enorme. mandou eu pegar com as seguintes instruções: você está vendo estas almofadas e este taco? pois bem, vou sair do quarto e fechar a porta. assim que eu sair você vai bater nas almofadas e gritar até não aguentar mais. quando terminar me chama. deu as costas. fechou a porta. eu o taco e as almofadas. sei lá. fiquei ali parada um tempo. com medo. medo. mesmo. então tomei coragem e bati a primeira vez. muda. a segunda muda. sei lá em que momento me peguei surrando e gritando como uma primitiva. não sei quanto tempo fiquei ali. quando saí ela me esperava na sala dela. pegou o bastão da minha mão e perguntou muito simplesmente: e aí? não lembro se respondi ou o que respondi. ela mandou eu voltar para casa. na próxima sessão eu estaria pronta para falar. saí. peguei um táxi e fui para casa. lembrei disso agora porque estou com uma vontade enorme de gritar. tem isso também. toda casa que se preza deveria ter um quarto destes: o quarto do grito.
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