minha avó tinha uma estola de mink. vivia guardada no armário coberta por um protetor azul de tecido. contava que meu avô havia dado à ela de presente quando moravam nos eua, para ela ir às festas mais linda do que já era. lindo estes dois. isto era na década de quarenta. havia muita ignorância a respeito de tudo ou quase tudo. minha avó me mostrava a estola cheia de orgulho e uma pitada de vaidade. dizia que, desde que havia voltado ao brasil nunca mais havia vestido a estola e que todas as amigas pediam emprestado e ela achava muito engraçado porque não havia como usar uma estola de mink no rio de janeiro. mas ela emprestava porque não queria que pensassem que ela era esnobe coisa e tal ( está chovendo. chuva de verão. as crianças lá fora estão tomando banho de chuva! ). até o dia em que minha avó morreu eu nunca havia tocado na tal estola. tipo vestido. colocava as mãos e me incomodava. sei lá. quando fui obrigada a desfazer seu armário, a última coisa que tirei lá de dentro foi a estola. a coloquei sob os meus ombros. maior desconforto. estranho mesmo.fiquei pensando o que eu iria fazer com aquilo. dias depois fui num brechó e larguei lá. a dona me perguntou quanto eu queria na estola. disse que não fazia a menor idéia. pra falar a verdade dei de presente mesmo. sei lá se alguém comprou aquilo. pra mim é meio surreal usar uma pele. tipo carregar um defundo sobre os ombros. então fico me perguntando o que deu na cabeça da madonna ao usar um casaco de vinte mil dólares de chinchilla. você já viu uma chinchilla? pois é. acho que ela não. minha avó nos tempos de agora não usaria um casaco daqueles. nem teria aceitado a tal estola de mink do meu avô. minha avó era muito in. e a madonna credo, é muito out.
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