hoje eu não quero ser forte. não quero ser guerreira. não vou sair para matar nenhum leão. estou triste e de luto. meu pai morreu. morreu a dois anos mas não tem jeito, ainda sinto muito a morte dele. não existe nada mais solitário e covarde que a morte. meu pai morreu numa manhã de sol em ipanema e nada mudou. me avisaram dois dias depois. aquele homem bonito, cheiroso, sempre muito bem vestido, culto, falador estava morto esperando por mim numa geladeira do hospital do exército. ( se quizer pode parar de ler agora, estou sendo muito egoÃsta. estou escrevendo pra mim. então, não se quizer pode sair...). de nada adiantou estudar tanto, ler tanto, ouvir tantas boas músicas, se perfumar, usar roupas bem combinadas. ele estava morto num freezer como uma vaca abatida num pasto. quando cheguei no hospital numa tarde de sábado, um homem veio me atender. tarefa árdua aquela. eu, filha única, absolutamente sozinha com meu marido procurando meu pai. me trouxeram uma pasta com papéis para assinar, com fotos de onde eu gostaria de colocar meu pai ( coisa surrealista, quem pode buscar o luxo na morte? se gastasse mil reais ali, meu pai seria capaz de voltar só pra brigar comigo.) e eu ali olhando aquilo tudo com vontade de sair correndo. mas fiquei. o homem então disse que iria trazer meu pai. e trouxe. jogou meu pai, que estava dentro de uma caixa no chão e me perguntou: é esse aÃ?! olhei para o meu pai morto. morto e maltratado. desrespeitado. nu , coberto por um pano. e um leve sorriso no rosto. como se tivesse olhado para alguém muito importante nos últimos minutos. aquele não era o meu pai cheiroso, bem penteado, bem vestido.
aqueles eram os restos de alguém que um dia foi a representação do meu pai. fechei meus olhos e ofendi diretamente à quele homem que não soube respeitar meu pai. não sabe respeitar esta condição ridÃcula que á morte. estou perdida. em dois anos esta é a primera vez que desabafo. com certeza ele está me ajudando a colocar para fora a dor que é ver seu pai inerte. frio. morto.
levei meu pai embora sozinha num final de tarde de sol. li vinicius e deixei somente uma rosa. levei ele comigo. carrego ele comigo. como sempre deveria ter sido. aff..
aqueles eram os restos de alguém que um dia foi a representação do meu pai. fechei meus olhos e ofendi diretamente à quele homem que não soube respeitar meu pai. não sabe respeitar esta condição ridÃcula que á morte. estou perdida. em dois anos esta é a primera vez que desabafo. com certeza ele está me ajudando a colocar para fora a dor que é ver seu pai inerte. frio. morto.
levei meu pai embora sozinha num final de tarde de sol. li vinicius e deixei somente uma rosa. levei ele comigo. carrego ele comigo. como sempre deveria ter sido. aff..
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