terça-feira, fevereiro 28, 2006

meu pai...sóstenes pernambuco pires barros. era um cara complicado. nasceu no recife e muito menino perdeu minha avó isabel. meu avô abandonou a ele e a meu tio e foi morar no sul. lá formou uma nova família e só foi aparecer muito tempo depois. quando já era tarde. entrou pro exército porque queria um pouco mais da vida. conheceu minha mãe elzira teixeira de barcellos, filha de adido militar da aeronáutica, aviador talentoso, militar poderoso, victor g. de barcellos. minha mãe queria sair de casa, meu pai queria um pouco mais da vida. uniram seus desejos. somente isso. meu avô morreu alguns anos depois. os planos de pernambuco e elzira foram por água abaixo. rei morto rei posto. dois anos depois da partida de victor chega alba regina. ( tá doendo, volto depois...). meu pai nunca admitiu, mas descobri mais tarde, não possuía o mínimo talento pra ser pai. a pedido meu os dois se separaram. foi a única vez em que me escutaram. meu pai foi pra brasília e fiquei no rio com minha mãe e minha amada vó alba. em brasília meu pai encontrou o primo-irmão elcio. a mãe do elcio ajudou a criar meu pai. o elcio era casado com a celme e tinham quatro filhos. os dois estavam se separando. meu pai se apaixonou por celme. foi curar as feridas cenográficas que ela criava. durante mais de trinta anos foram roommates. ela manipulava o amor do meu pai. não me queria por perto. não me deixava chegar perto. voltaram pro rio...meu pai recebia as filhas dela na casa. ajudou a tratar da mais nova que era viciada em cocaína e vivia se metendo em roubadas com traficantes. a caçulinha ficou doente, hepatite. quase morreu. foi tratada na casa do meu pai. eu não podia telefonar, nem subir no apartamento. fui a bastarda mais legítima da história. a mais velha era o orgulho da mamãe, trabalha na globo. ajuda o manoel carlos a escrever novelas e a mamãe nos roteiros da vida real. foram anos telefonando as escondidas, meu pai atendendo dizendo que era um amigo fulano de tal...telefonando de orelhões, mandando e-mails secretos. meu pai nunca pegou os netos no colo. nunca ajudou a curar nenhuma gripe minha. meu pai morreu. me avisaram três dias depois. foi difícil decifrar os códigos que ele havia deixado e me descobrirem. a última pessoa que ele viu foi a loira louca. me entregaram as roupas do meu pai numa sacola de supermercado. as filhas subiram ao apartamento e eu fiquei esperando na portaria. enterrei meu pai sozinha. naquela tarde de sábado, caminhei sozinha. eu e ele. de maõs dadas. no fim era eu, ele, um poema de vinícius e uma rosa. como sempre deveria ter sido. ( merthiolate arde ).