e o mundo todo se resume a mim enquanto estou aqui sentada a frente do meu altar. mas enquanto estou aqui, à s dezesseis horas e trinta e nove minutos do dia quatro de fevereiro de dois mil e seis, em cabo frio, no rio de janeiro, brasil, eu sei, pior, sinto, que estou perdendo centenas de visões da vida, centenas de sabores e cheiros da vida, outras centenas de sons diferentes, de ruas diferentes, de lugares diferentes. neste exato instante eu não queria estar aqui. queria estar ali. do outro lado do atlântico, sentada num café ou simplesmente num banco de praça. observando as pessoas caminhando, ouvindo seus sotaques, queria estar caminhando numa rua diferente, esperando um sinal abrir ou fechar e enquanto isso, observar as janelas dos prédios. queria tomar um copo d'água e ficar em dúvida se a água de lá tem o mesmo sabor que a daqui. queria entrar numa livraria e me perder dentro dela. queria entrar numa loja de discos e escutar todos os sons possÃveis. queria entrar numa igreja qualquer, rezar em português e achar muito engraçado porque mesmo estando lá deus compreende meu idioma daqui, queria entrar num restaurante e pedir o prato mais diferente porque saberia que aqui não encontrariua o mesmo sabor que lá. queria entrar num cinema. queria assistir a uma peça e me perder no diálogo mas aproveitar mesmo assim. queria entrar naquela loja e comprar aquela bolsa cor de pistache que eu vi e endoideci por ela. queria entrar no hotel, chegar no quarto tomar um banho que deixaria meus cabelos maravilhosos porque a água de lá os deixa assim, me jogar na cama e assistir a todos os anúncios na televisão...queria; mas agora percebi que o meu querer me fez viver tudo isso aqui mesmo, não lá como eu queria. mas também a gente não pode tudo o que quer. de qualquer maneira, continuo querendo.
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