então eu estou super hiper resfriada e minha cabeça doí doí. mesmo assim fiquei acordada até sei lá três da manhã esperando ele subir no palco. o quatragésimo quarto presidente dos eua obama.e minha cabeça ficou girando e girando enquanto eu escutava esse homem falar. e lembrei da minha vó que me contava as estórias mais inacreditáveis dos tempos em que ela e meu vô moravam em d.c. tipo ela entrava no ônibus e a empregada só podia sentar no bancos de trás. ou quando ela entrava em algum lugar e ela ficava do lado de fora. e quando ela contava havia aquele tom de espanto e indignação. enquanto minha cabeça girava lembrei do motorista que tínhamos que me viu nascer o meu dionísio. um negro de quase dois metros de altura que era tão negro mas tão negro que o branco dos seus olhos eram meio amarelados. e o quanto eu amava aquele homem que me carregava no colo de lá pra cá com seu cheiro de lavanda e camisa engomada azul clara. meu dionísio deus negro. mais um pouco lá estava eu na minha sala do primeiro ano na tradicional escola de freiras francesa. seis sete anos de idade. eu aluna nova. ela já estava lá. nós duas com nosso uniforme azul marinho com botões de madrepérola e cinto de elá stico vermelho. uniformizadas. idênticas. mas ela se chamava vânia e era negra. assim como meu dionísio. e ninguém sentava com ela. e eu sentei. lembro até hoje do olhar de espanto dela para mim como se dizesse: menina maluca. tá fazendo o que aqui? o cabelo dela curtinho cheirava a henê. o cheiro era enjoativo como o quê. mas ela era um encanto e me recebeu com susto espanto e carinho. depois desse primeiro dia fui banida da sala. se é que você me compreende. a vânia acabou se rendendo e saiu da escola. eu fiquei. penei durante anos. pela minha ousadia de sentar ao lado de uma negra. meu nariz em forma de cascata minha cabeça latejando e ele lá longe falando e repetindo " yes, we can. yes, we can." eu penso que eu repito isso over and over pros meus filhos. dia desses victor chegou em casa da escola chorando porque na sala os amigos oegavam no pé dele por conta de seus desenhos absolutamente diferentes dos outros. eu sem saber o que dizer diante daquela tristeza. sem saber como mostrar para ele a importância dele fazer diferente. e quando uma luz divina me alcançou peguei meu livro verde de picasso e mostrei para ele como o diferente pode ser lindo e importante. e que cada um é como é. e pronto.
girando. pensei que obama era uma criança como a vânia. afinal, temos dois anos de diferença apenas. fiquei pensando se alguém infrigiu as leis e sentou ao lado dele. lanchou com ele. nossa. eu vou continuar isso depois. "it's a beautiful day ... "( para cantar gritando ).