a seis anos atrás meu filho victor estava prestes a nascer. dezesseis dias até seu nascimento. dias difíceis. estava separada do leandro. minha mãe no auge das suas crises. mariana no início da adolescência. eu me sentia mal física e espiritualmente. passávamos por uma crise financeira cruel. não havia com quem contar. a não ser comigo mesma. cada dia era uma vitória. porque quando o dinheiro não entra, você acorda rezando para que nada de grave caia na sua cabeça nas vinte e quatro horas que estão por vir. o básico na dispensa é um presente de deus. os dias passavam. tudo o que eu mais queria era gritar por ajuda. victor nasceu. cheio de saúde. eram dias de muito leite e choro. estava sozinha. absolutamente. naquelas madrugadas com meu filho no colo, fechava os olhos fingia dormir para que mariana dormisse também. quando ela dormia abria os olhos e meus pensamentos estouravam na minha cabeça. leite. lágrimas. um pouco de sangue também. no fundo de mim havia a plena certeza de que aqueles dias de miojo, sanduíches, tarjas pretas e medo passariam. independente da ausência dele. independente da loucura da minha mãe. independente de mim. assim. a vida é independente. tudo passa. nem sei porque comecei a escrever tudo isso. bonjour.
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