aos treze anos me apaixonei pela primeira vez. como já disse antes, foi uma paixão platônica que me acompanhou por quase toda a adolescência. era uma paixão daquelas! bastava ele aparecer e meu coração saÃa pela boca, minhas pernas tremiam, era adrenalina pura! certa vez, num pretexto para passar alguns momentos sozinha com ele, inventei que queria um disco emprestado para gravar. mal sabia ele que eu tinha o tal disco. ele apareceu na minha casa, sentou-se por alguns minutos no sofá e foi embora. o disco voltou para o dono e a paixão ficou guardada por alguns anos. um belo dia, assim como veio foi embora. muitos anos se passaram como nas estórias de fadas; era dia do meu aniversário, já estava namorando o leandro e esbarrei com ele na rua. descontraÃda como somente uma mulher não apaixonada pode ser, disse que era meu aniversário e, conversa vai conversa vem, o famijerado dia do 'me empresta o seu disco?' veio à tona. no final da conversa ele me disse: 'ainda tenho o disco, vamos lá em casa pra eu te dar de presente.' coração disparado, pernas bambas, uau! eu tinha 14 anos novamente! esqueci que o leandro estava para chegar e fui buscar meu presente com uns vinte e cinco anos de atraso. portaria. elevador. apartamento. quando ele abriu a porta, abriu-se o passado se com ela. como eu desejei aquele momento, como eu esperei por aquele momento. e, agora ele estava acontecendo. fui entrando lentamente na sala, observando cada detalhe daquela casa que eu imaginei por tanto tempo. ele foi buscar o disco e o me entregou com um sorriso no rosto. conversamos por mais um tempo, e num determinado momento, num determinado instante ele me olhou com aquele olhar eu vou te beijar agora. enxerguei naquele olhar um desejo que eu sempre desejei. foi por um triz. chegou bem perto e eu fugi. peguei o disco e disse que estava atrasada, havia alguém esperando por mim. ele abriu a porta, me beijou o rosto. entrei sozinha no elevador abraçada ao disco. porque eu não dei aquele beijo que eu sempre desejei eu não sei. ou melhor, sei sim. se eu o beijasse, o encantamento terminaria ali. ainda estou encantada. porque no fundo a gente nunca sabe se as estórias de fada são realidade ou não.
( para marcelo pittigliani celano...que eu não sei aonde está).
(p.s: o disco, enorme de vinil, está na minha estante no meio dos meus livros. ninguém entende o que um vinil está fazendo no meio de livros...).
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