terça-feira, janeiro 23, 2007

"O arroz e o feijão que me alimentam é que são enigmas. E falar com o porteiro, ir ao dentista, reclamar do eletricista, dar ordens à empregada, apressar o tintureiro, isso sim, são mistérios que nunca desvendei. O elevador me leva dentro da comprida caixa onde moro e não diviso. O coração bate vermelho, vulnerável alvo de absurdo querubim. Ruboriza-se o rosto que assumi. Digo - bom dia! e tiro os óculos escuros de repente assustando a todos com meu susto. Ousando outra fronteira eu estremeço. Mas por baixo sorri minha caveira. E a fileira das vértebras que se espraiam em costelas, tentam asas. E os joelhos-rótulas caminham, e as artérias-veias pulsam. Orgãos habitantes de cavernas trocam segredos de humores entre macias púrpuras. A linfa emite signos-sinais às sementes alojadas nos escaninhos do corpo.
Pressinto os anjos que me perseguem."
( acordo embaraçada em sonhos - helena jobim ).